LEI Nº 5.846, de 22 de dezembro de 1980
Dispõe sobre a proteção do
patrimônio cultural do Estado e dá outras providências.
O
GOVERNADOR DO ESTADO DE SANTA CATARINA,
Faço saber a todos os habitantes deste Estado, que a Assembléia Legislativa decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
CAPÍTULO I
Do Patrimônio Cultural
Art. 1º
Integram o patrimônio cultural do Estado, os bens móveis e imóveis que, pelo
interesse público em sua conservação venham a ser tombados pelo órgão
competente.
Art. 2º
Consideram-se de valor histórico ou artístico, para os fins desta Lei, as obras
intelectuais no domínio da arte e os documentos e coisas que estejam vinculados
a fatos memoráveis da História ou que apresentem excepcional valor
arqueológico, etnográfico, bibliográfico, artístico ou religioso.
Parágrafo
único. Será regulada por lei especial a preservação dos monumentos naturais,
paisagens e locais de rara beleza.
Art. 3º
A presente Lei se aplica aos bens pertencentes quer às pessoas naturais, quer
às pessoas jurídicas de direito privado ou de direito público.
CAPÍTULO II
Do Tombamento
Art. 4º
O tombamento será promovido pela Fundação Catarinense de Cultura, ouvido o
Conselho Estadual de Cultura, após homologação pelo Governador, quando se
tratar de bens imóveis, ou pelo Titular da Pasta responsável pelos negócios da
Cultura, quando se referir a bens móveis.
Parágrafo único. Idêntico processamento será observado quanto aos atos de cancelamento, previstos nesta Lei.
Art. 5º
Para efeito de inscrição dos bens, manterá o órgão competente cinco Livros do
Tombo, a saber:
I - Livro do
Tombo Arqueológico e Etnográfico, onde serão inscritas as coisas pertencentes
às categorias de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia e popular;
II - Livro do
Tombo Histórico, onde serão inscritas as coisas de interesse histórico e as
obras de arte históricas;
III - Livro do
Tombo das Belas Artes, onde serão inscritas as coisas de arte erudita, nacional
ou estrangeira;
IV - Livro do
Tombo das Artes Aplicadas, onde serão inscritas as obras que se incluem na
categoria, sejam nacionais ou estrangeiras;
V - Livro do
Tombo das Artes Populares, onde serão tombados os bens relacionados com
manifestações folclóricas, características de épocas e regiões do Estado.
Art. 6º
O tombamento efetuar-se-á por uma das seguintes formas:
I -
“ex-offício”, com notificação à entidade interessada, quando pertencerem ao
Poder Público, ou estiverem sob a guarda deste;
II -
voluntária:
a)
a
pedido do proprietário; ou
b) quando notificado o
proprietário, este anuir, por escrito, à inscrição;
III - compulsória, quando o proprietário se recusar à inscrição após processo regular.
Parágrafo
único. Cumpre ao órgão competente:
a)
notificar
o proprietário para, no prazo de 15 (quinze) dias, anuir ao tombamento, ou, se
o quiser, impugná-lo;
b) proceder ao tombamento, por
simples despacho, decorrido o prazo, sem a manifestação do interessado;
c)
decidir,
fundamentalmente, contra a impugnação ouvidas, quando necessário,
especialistas.
Art. 7º
Compete a iniciativa do tombamento:
a)
a
qualquer do povo, mediante proposta escrita, com firma reconhecida, da qual
constem, elementos suficientes de identificação do bem a ser tombado;
b) ao próprio órgão competente,
“ex-offício” mediante portaria, da qual constem os elementos mencionados na
letra anterior.
Art. 8º
Quando imóveis os bens tombados, seu registro será procedido, no respectivo
cartório, na conformidade do que dispõe o artigo 13 do Decreto-Lei nº
25, de 30 de novembro de 1937.
Art. 9º
As jazidas pré-históricas ou arqueológicas não serão tombadas, mas cadastradas
em livro próprio; todavia, o tombamento dessas jazidas poderá ser feito,
excepcionalmente, caso haja interesse cultural, a juízo do Conselho Estadual de
Cultura, inscrevendo-se para efeito da Lei Federal nº 3.924, de 26 de
julho de 1961, no Livro do Tombo Arqueológico e Etnográfico.
CAPÍTULO III
Dos Efeitos do Tombamento
Art. 10. Iniciado o processo de tombamento, desde logo incidirão sobre a coisa, os efeitos desta Lei.
Art. 11. Ficam
as coisas tombadas sujeitas à vigilância permanente da Fundação Catarinense de
Cultura, que poderá inspecioná-las sempre que julgar conveniente.
Art. 12. Os
bens tombados são transferíveis, observadas as seguintes condições:
I - os do
Estado à União, desde que conservados em Santa Catarina, e aos Municípios;
II - os do
Município à União, com a restrição do item anterior, ao Estado, ou a outro
Município;
III - os
particulares, a qualquer pessoa natural ou jurídica, com a cláusula de não
remoção definitiva da coisa para fora do território estadual.
§1º Da
transferência e do deslocamento será dada ciência ao órgão competente.
§2º Pelo
não atendimento do disposto no parágrafo anterior, dentro de 30 (trinta) dias,
sofrerá o particular adquirente do bem tombado, a multa de 10% (dez por cento)
sobre o valor da coisa.
§3º
Somente se permitirá a saída do Estado, do bem tombado, por tempo certo e para
fins de intercâmbio cultural, a juízo do órgão competente.
§4º
Exclui-se da proibição do parágrafo anterior a necessidade de mudança
definitiva do proprietário, hipótese em que a autoridade terá opção para
adquirir ou desapropriar o objeto.
Art. 13.
Ocorrendo extravio ou furto da coisa tombada, o proprietário ou possuidor dará
conhecimento do fato ao órgão competente, dentro do prazo de 5 (cinco) dias,
sob pena de multa de 10% (dez por cento) sobre o respectivo valor.
Art. 14. As
coisas tombadas não poderão, em caso nenhum, ser destruídas, demolidas ou
mutiladas, nem, sem prévia autorização do órgão competente, ser reparadas,
pintadas ou restauradas, sob pena de multa de 50% (cinqüenta por cento) sobre o
dano causado.
Art. 15. O
proprietário da coisa tombada que não dispuser de recursos para proceder a
obras de conservação e reparação que ela requerer, comunicará à Fundação
Catarinense de Cultura, sob pena de multa correspondente ao dobro da
importância do dano.
§1º
Recebida a comunicação necessária às obras, a Fundação Catarinense de Cultura
mandará executá-las, a expensas do Estado, no prazo de 60 (sessenta) dias, ou
providenciará a sua desapropriação.
§2º À
falta de providências, no prazo citado poderá o proprietário requerer o
cancelamento do tombamento.
§3º
Urgentes as obras, independente da comunicação do proprietário, a Fundação
Catarinense de Cultura poderá ter a iniciativa da conservação ou reparação.
Art. 16. Sem a
prévia autorização do órgão responsável pelo tombamento não se poderá, na
vizinhança da coisa tombada, fazer construção que impeça ou reduza a
visibilidade, nem nela colocar anúncios ou cartazes, sob pena de ser mandado
demolir a obra ou retirar o objeto estranho.
Art. 17. Ao
Estado assiste preferência, ressalvada a da união, para adquirir a propriedade
de bens tombados, em caso de alienação onerosa.
§1º Para
os fins deste artigo o alienante notificará o titular do direito de preferência
para que o use, dentro de 30 (trinta) dias, sob pena de perdê-lo.
§2º É
nula a alienação realizada com violação do disposto neste artigo, aplicando-se
a multa de 20% (vinte por cento) do seu valor ao transmitente e ao adquirente,
como responsáveis solidários.
§3º O
direito de preferência não impede a constituição de direitos reais sobre a
coisa.
CAPÍTULO IV
Disposições Gerais
Art. 18. É
competente para a aplicação das penas pecuniárias previstas nesta Lei, o
Conselho Estadual de Cultura, mediante representação do órgão responsável pelo
tombamento.
Parágrafo
único. Não estando fixada penalidade específica para as transgressões das
obrigações impostas nesta Lei, aplicar-se-ão multas de 1 a 20% sobre o valor do
bem tombado, sem prejuízo da responsabilidade funcional, criminal ou civil, que
couber.
Art. 19. Das
decisões sobre o tombamento cabe pedido de reconsideração, quando o despacho
final for do Governador e recurso ao Governador, quando do Secretário, e das
decisões que aplicarem multas, cabe recurso para o Secretário.
Art. 20. A
Fundação Catarinense de Cultura poderá articular-se mediante convênios, se for
o caso, com o Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, visando a:
I - atividade
conjunta na consecução dos fins objetivados pela presente Lei;
II - formação
de pessoal especializado;
III - controle
do comércio de obras de arte antigas.
Art. 21. Cabe a
defesa e conservação dos documentos de interesse histórico ao Arquivo Público.
Art. 22. As
despesas desta Lei correrão à conta das dotações próprias da Fundação Catarinense
de Cultura, ou o órgão que venha a sucedê-la.
Art. 23. Esta
Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogada a Lei nº 5.056,
de 22 de agosto de 1974, e demais disposições em contrário.
Florianópolis,
29 de dezembro de 1980.
JORGE
KONDER BORNHAUSEN
Governador do Estado